Aprofundamento

Identidade para além do eu

Mas antes de colocar a mão na massa, precisamos ampliar a nossa visão de identidade. Na nossa cultura desenvolvemos uma visão muito limitada para a pergunta “quem sou eu?”. Uma versão rasa, fictícia, estática e individualista.

Te convido a criar a identidade da sua comunidade de maneira sistêmica. A percepção de quem sou eu precisa ser ampliada para incluir o nosso relacionamento com outros seres.

E não estou falando isso porque é bonito ou romântico criar uma narrativa compartilhada. É também. Mas os cientistas já provaram que a formação da nossa identidade não é isolada, e sim compartilhada.

Biólogos e neurocientistas estão provando com diversas pesquisas que nossa identidade não é construída de maneira isolada, e o cérebro humano também é “um órgão social, feito para estar em relacionamento”, como afirma o professor Dan Siegel.

“A simbiose é uma característica onipresente da vida, na qual nós mesmos emergimos de um complexo emaranhado de relacionamentos que só agora nos tornamos conhecidos” Merlin Sheldrake

Siegel sugere que assim como fungos e bactérias estão o tempo todo em simbiose, até mesmo o centro do nosso ser, a mente humana, não é tão separada quanto acreditávamos.

Nossa mente também é parte de um sistema interconectado e interdependente que envolve nosso corpo, nosso cérebro, nosso ambiente, e nossas relações sociais.

“Os lichens confundem nosso conceito de identidade e nos força a questionar onde um organismo acaba e outro começa.” Merlin Sheldrake

É um paradoxo: como organismos vivos, ao mesmo tempo que conservamos uma identidade individual, estamos em uma larga rede de relacionamento, que molda o tempo todo quem nós somos, podendo liberar ou constringir quem podemos nos tornar.

“Estamos aprendendo, contra toda a sabedoria prevalecente, de que a natureza humana não é buscar autonomia - tornar-se uma ilha para si mesmo - mas, sim, buscar companheirismo, afeto e intimidade. A crença convencional que iguala o autodesenvolvimento e a autoconsciência com o aumento da autonomia começou a perder seu prestígio intelectual. Um número crescente de psicólogos do desenvolvimento infantil agora argumenta o contrário - que um senso de identidade e autoconsciência depende e se alimenta de relacionamentos mais profundos com outras pessoas.” Jeremy Rifkin

Nosso trabalho para desenhar conexões passa necessariamente por sustentar o espaço, e criar o tempo para que os membros da comunidade possam continuamente refletir sobre “quem sou eu” e “quem somos nós”.

Resumo:

  • A identidade não pode ser imposta de cima para baixo

  • Não adianta refletir sobre identidade de maneira isolada: é constante e emergente.

  • A identidade coletiva não vai fazer sentido se não tiver espaço para intenções individuais

  • A identidade individual não vai fazer sentido, se não tiver espaço para uma identidade coletiva

  • Para que haja engajamento é fundamental gerar consciência individual e coletiva de porque estamos nessa comunidade, e se estamos avançando nesse propósito que é importante para nós.

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